sábado, janeiro 18, 2014

Revolver Magazine entrevista Taylor Momsen

       A feiticeira do rock passou pelo inferno para fazer o novo álbum de sua banda. Mas ter andando pelas chamas – e lamber suas feridas – apenas a deixou mais preparada para dançar com o Diabo. 
       O novo álbum de sua banda pode ser chamado Going To Hell, mas Taylor não acredita que está destinada às coisas que descreve, rindo, como “um buraco no chão com demônios”. Seus professores católicos da escola discordam. “As freiras faziam você se ajoelhar para medir sua saia porque tinha que ter um certo comprimento de sua cintura”, ela relembra. “Minhas saias eram sempre muito curtas e eu sempre estava encrencada por causa disso. Sempre me batiam com uma régua”, se lembra rindo. 


       Se as freiras não aprovavam o comportamento de Momsen antes, elas deviam ver ela agora. Sincera e desinibida, a cantora e guitarrista se tornou um “para-raios” da mídia nos últimos anos. Em 2010, quando a Revolver colocou Momsen na capa do Hottest Chicks in Hard Rock pela primeira vez, ela era uma novidade no mundo da música pesada. Ela se distanciou de sua personagem Jenny Humphrey de Gossip Girl e Cindy Lou Who de How Grinch Stole Christmas, fazendo declarações provocativas à revistas como a nossa, e regularmente usando roupas íntimas para sair - tudo isso com 17 anos. Recentemente fez 20 anos e se aposentou da atuação para focar na música e trabalhos como modelo. E agora, como antes, a cobertura da mídia sobre ela envolve principalmente críticas sobre suas roupas e maquiagem - USA Today recentemente elogiou ela por “desistir do visual gótico” na Fashion Week deste ano - assim como as performances live de sua banda. A VHI até usou a frase “o pior pesadelo de um pai” para descrever a hora em que Momsen convida fãs para subir ao palco e tirar a roupa durante a música Goin’ Down. Comentaristas e haters regularmente à descrevem como “promíscua” ou “vadia”, apesar dela manter sua vida pessoal privada. 
       “É uma coisa super irritante”, ela diz. “Eles estão julgando apenas pela aparência. Tabloides e toda essa merda, eles precisam preencher uma história, então usam palavras como essas. Eu me visto como me visto e acho que as pessoas julgam um livro por sua capa. Acho que a palavra “vadia” se tornou muito comum, mas não sei como nem quando aconteceu de deixarmos todas as garotas se chamarem de vadias e não levarem isso como um insulto. Eu não quero falar de mim me retratando como vadia”

       Enquanto não gosta de alguns comentários que pessoas que não a conhecem falam, ela diz que o maior problema é que ela não quer ser uma celebridade. “Não é real”, ela explica. “Eu quero ser conhecida pelo que faço - que é fazer música.”
Um reconhecimento de que quer tanto essa ascensão, é que ela enfrentou o inferno para fazer seu novo álbum, que chega às lojas em março. A banda estava escrevendo músicas ha dois anos, quando o furacão Sandy inundou o estúdio da The Pretty Reckless abaixo de 8 pés de água. Mas a tempestade não foi o único contratempo no processo criativo. Pouco depois do Sandy, a esposa do produtor Kato Khandwala morreu inesperadamente. “Ela era muito próxima de todos nós,” Momsen diz, “Ainda não superamos” Mas ela acrescenta, na cara do coração partido, “Você volta a trabalhar”

       Agora, Momsen relata que “boas coisas podem vir de tragédias”, e está orgulhosa do jeito que Going To Hell ficou. Enquanto falávamos sobre como ela fez o álbum, e as várias maneiras que as pessoas a interpretaram mal durante os anos, uma coisa é certa: Não subestime Taylor Momsen.

REVOLVER: Você começa o álbum sussurrando “Don’t bless me father for I have sinned.” O que você quer confessar?
TAYLOR MOMSEN: Eu não quero te contar todos os meus pecados para que você possa imprimí-los. Caramba, vamos lá, cara.
Tudo bem, vamos falar sobre Going To Hell. Você acredita no inferno?
Eu não sou uma pessoa muito religiosa então uso o inferno como uma metáfora. Inferno representa tudo à nossa volta que está errado. Se eu realmente acredito que existe um buraco no chão com demônios? Quem sabe? [Risos] Mas seria legal pra caralho se existisse.
Por que?
Se existe o inferno, todos meus amigos estarão lá também. Vai ser uma festa quente.
Você já se interessou no oculto?
Sou uma fã da fantasia da existência do oculto. Eu amo Buffy the Vampire Slayer e Evil Dead. Eu iria amar se fosse real, mas acredito que tenha sido uma invenção. Mas esse assunto rende ótimos filmes.enho e existe o inferno, todos meus amigos estarão lá também. Vai ser uma festa quente.
Então você não tem medo de usar um tabuleiro Ouija?
Não. Eu tenho uma em minha casa, e não fazia merda nenhuma acontecer, e eu fiquei muito irritada. [Risos]

Você acredita em fantasmas?
Nem um pouco. Mas tenho uma história relacionada com fantasmas, de uma vez que estávamos em turnê e ficamos no hotel em Milwaukee onde Jeffrey Dahmer (serial killer) matou sua última vítima. Nós demos uma gorjeta para o porteiro para ficar naquele quarto.
Enquanto eu estava tomando banho, umas coisas estanhas aconteceram. O chuveiro se desligou e a banheira começou a encher de água sozinha, então o chuveiro ligou de novo. Eu não sei se foi por causa da tubulação estranha, ou sei lá o que mas foi um pouco assustador. Quando eu abri a cortina, estava tudo cheio de vapor. Eu olhei para cima e vi uma marca de mão gigante, muito em cima na parede. Alguém teria que subir na privada para alcançar àquela altura.  Eu tentei tirar uma foto mas não aparecia, foi super estranho. Aquele banheiro era o que todos iriam usar aquele dia e aconteceu com todos da banda. Todos viram a marca da mão, mas em lugares diferentes. Foi muito estranho. Eu fiquei tipo “Quem está brincando com a gente? Alguém tem que estar brincando com a gente.” Todo mundo ficou um pouco assustado, mas foi legal.

Quando você estava posando para o photoshoot –inclusive deitando em um pentagrama de sal- você disse que estava escrevendo uma música sobre um círculo de sal. Qual é o significado disso?
Não está no álbum - só estou sempre escrevendo. Ver os fotógrafos desenharem o círculo de sal me lembrou que recentemente escrevi uma frase dizendo “Morte tentando entrar e usando um círculo de sal como proteção da morte.” Achei muita coincidência. Eu aprendi sobre usar círculo de sal como proteção em programas de TV, como Charmed, eu acho. Coisas de bruxaria.

Você já leu a Bíblia Satânica?
Não. Eu tenho uma e já dei uma olhada mas eu não acredito em nada daquilo. Todas as religiões tem pontos bons, mas tudo se resume a “não machuque outras pessoas,” “não machuque a Terra,” e “faça o que você quer,” “seja livre.” É por isso que eu amo tanto o rock and roll, porque rock and roll é liberdade. Você faz o que quer, toca o que quer, você se liberta e está livre.

Você tem uma bíblia Cristã?
Eu tenho uma em algum lugar. Tenho certeza, mas não fica na minha cama toda noite.

A nova música “Sweet Things” fala abertamente sobre o mal e o que ele faz as pessoas fazerem, meio que no sentido de Big Bad Wolf e Little Red Riding Hood, só que mais assustador.
“Sweet Things” definitivamente fala sobre esse conceito do mal conduzindo as pessoas. Existe o bem, e existe o mal. Essas coisas existem pois essas são ações humanas. Sweet Things definitivamente tem esse conceito e tem esta história sobre um homem mais velho e uma garota nova. Toda esta escura e retorcida história corre pela música. [Risos]

O que fez você querer escrever uma história sobre isso?
Eu fiquei muito obcecada com os filmes Lolita e O Iluminado quando nós estávamos escrevendo, então esse tema apareceu. Então eu li (o romance de 1955) Lolita e fiquei obcecada por ele. Foi meio que minha opnião sobre Lolita. Mas é mais que apenas a história de Lolita, cada seção representa uma pessoa na história que estou contando. Estou dizendo que cada instrumento representa uma pessoa ou um personagem diferente.

Você canta sobre prostitutas e drag queens nessa música. Muitos artistas não cantam tão abertamente sobre sexo. Por que você se sente tão confortável abrangendo esses tópicos?
As músicas pop não são todas sobre sexo? Eu gosto de escrever sem limites.

Falando nisso, a música Follow Me Down começa com alguns sons interessantes. O que está acontecendo lá?
Bem, é um orgasmo. [Risos]

De quem?
É uma performance da minha amiga (atriz pornô) Jenna Haze. [Risos] É o único, então não fique procurando por ele na internet.

Como alguém grava um orgasmo de Jenna Haze?
Você liga para ela. Você faz isso com um iPhone.

E ela está pronta?
Eu não quero falar sobre a vida pessoal dela, mas, hm, sim. Ela me ajudou muito. Ela é uma das minhas amigas mais próximas.

O seu último álbum tem a música cheia de insinuações, “Goin’ Down.” Nos shows, você convida fãs ao palco para tirar a roupa. Por que começou a fazer isso?
Eu não lembro exatamente quando começou, mas foi em um clube dentro de uma igreja. Uma menina pulou no palco, tirou suas roupas e começou a dançar. Nós não tínhamos segurança nem nada naquele clube pequeno, então continuamos e se tornou algo. Todo mundo começou a fazer isso nos nossos shows, se tornou uma loucura. É totalmente divertido - garotas tirando suas blusas e dançando no palco. Incrível. Mas foi engraçado ter começado em uma igreja.

Qual foi a coisa mais louca que aconteceu nessa parte do show?
Uma vez uma menina tentou me dedar.

Uh, o que?
Ela ficou muito agressiva com isso, também. [Risos] Ela estava realmente a fim, o que eu entendo, mas, uh, ela não conseguiu, então foi bom. Então ela tentou “descer” em mim, literalmente. Eu estava com um vestido, e ela começou a colocar minha saia para cima e, tipo, a se ajoelhar, tentando colocar minha roupa íntima para baixo. Então eu agarrei a cabeça dela e a joguei pro lado. Eu agarrei o cabelo dela muito forte.

Você é mais abordada por grupos de mulheres ou homens?
É quase igual. As mulheres são mais loucas. As garotas ficam piradas nos shows.

O que você quer dizer?
Elas gritam mais alto, tiram as roupas durante os shows. Nós tivemos um casal fazendo sexo durante nosso show em São Francisco, literalmente fodendo na frente do palco. Foi uma loucura. Eles se livraram.

Religiosos conservadores falam sobre seus shows. Alguma coisa que alguém falou já a irritou?
Não. Eu não sei o que eles falam. Eu não me importo e nem tenho tempo pra isso. Você fecha o computador e desaparece. Estou ocupada criando coisas, então eu tenho outras coisas para pensar.

USA Today recentemente publicou um artigo que dizia que estavam felizes que você largou o “visual gótico” na Fashion Week. Você sente como se mídia mainstream não te entende?
Acho que eles irão. Acho que eles não tem a percepção correta de mim agora de maneira alguma. A propósito, “largou o visual gótico”?  É só a porra da maquiagem, cara. Apenas pintei meu rosto de um jeito diferente aquele dia.

Te incomoda quando as pessoas te tratam como uma celebridade?
Sim. Eu fui a Fashion Week esse ano e alguém me perguntou como meu closet é. E eu falei “Bem, é um closet: tem duas portas e muitos casacos.” “Não, não, como ele é?” Eu fiquei tipo “Cara, eu moro em um apartamento de merda no centro de Manhattan. Eu nem sei sobre o que você está falando. Um quarto que serve como guarda-roupa? Minhas malas estão no chão.” Eu me dei conta que ele pensou que estava falando com alguém que vive o estilo de vida de celebridade, e isso não tem nada a ver com quem eu sou ou que eu faço.

Como os seus pais reagem com tudo que já foi escrito sobre você?
Eles sabem que é tudo besteira. Eles me colocaram nessa indústria quando eu era uma criança então eles entendem.

Eles se preocupavam quando você entrou para o hard rock e metal?
Talvez minha mãe tenha se preocupado um pouco no início, mas meu pai é um puta fã do rock and roll.

E sobre quando você se apresentou com o Marilyn Manson no Revolver Golden Gods em 2012?
É, foi incrível pra caralho. Ele me estrangulou no palco, foi muito legal.

Ele te estrangulou muito forte?
Forte pra caralho. [Risos] Todos estavam preocupados, as pessoas estavam tipo: “Você precisa de um médico. Você está bem?” Cara, eu acabei de ser estrangulada por Marilyn Manson - estou bem. E agora eu gosto muito de ser estrangulada. Você aprende coisas.

Agora que você está focada na música, você trabalha melhor durante o dia ou a noite?
Sou definitivamente uma pessoa da noite. Eu deixo um caderno ao lado da minha cama porque sei que vou acordar no meio da noite e escrever. Tenho um caderno e uma caneta comigo todo tempo.

Quantos cadernos você diria que coletou?
Muitos. Tipo, centenas.

Suficientes para encher um armário tipo closet?
Certo, aquele closet que eu não tenho! [Risos] Eu tenho caixas de livros, malas de roupas, e guitarras por tudo.

Você perdeu guitarras por causa do furacão Sandy, certo?
Nós perdemos muita coisa. O estúdio inundou em 8 pés de água. Então tivemos que reconstruir nosso equipamento. Nós tivemos que achar outro estúdio, o que foi lamentável porque tínhamos uma boa vibe acontecendo. Foi lamentável, mas nós escrevemos a música Going To Hell enquanto estávamos procurando por um novo lugar.

Onde você estava durante o furacão?
Estava na Baixa Manhattan, e ver New York completamente preta, sem nenhuma luz foi tão estranho. Tão louco. Não foi divertido. Ficou frio sem energia. Então eu finalmente sai da cidade e fui para New England com a banda.

Você gravou crianças cantando o refrão da música “Heaven Knows”, na qual eles cantam “Heaven knows, we belong way down below.” Como foi aquilo?
Eles eram jovens, entre 8 e 12 anos. Eles não entenderam bem a letra, então tivemos que explicar. Eu estava tipo “Joguem suas porras de mãos para ar!” e foi muito difícil não dizer palavrões. [Risos] “Grite sobre o que você mais odei,a e a coisa que mais te deixa zangado. Eu quero que vocês gritem o mais alto que puderem!” No fim, eles estavam loucos, então foi ótimo.

Cantar que eles estavam indo “muito mais para baixo”, como o inferno, irritou alguma das crianças?
Acho que eles não entenderam o que estavam cantando. Ou entenderam, e eram crianças muito legais.

Algumas das suas músicas são bem irônicas, Going To Hell acabou sendo bem negativa. Então quando você está feliz?
Eu não chamaria de negativa, primeiramente. O que me deixa feliz é fazer música, cara. O álbum todo é escrito da minha perspectiva, então não chamaria de negativo- eu chamaria de bruto e honesto. É como eu vejo o mundo agora, de relacionamentos à inimigos, à economia, à política, à problemas sociais, à guerras, à matar pessoas, à tiroteios em escolas, à tudo. É minha perspectiva sobre onde as coisas estão neste momento - é meio fodido.

“Shotgun to the Party” é a música que você escreveu sobre tiroteios em escolas. Porque você quis abranger este tópico?
O objetivo da música, cara, é que você não tem que matar pessoas. É sobre uma pessoa se preparando para ir matar um monte de gente. Pare. Largue a arma, você vai conseguir a garota. É horrível, e ninguém está falando sobre isso. Digo, as pessoas falam sobre isso mas ninguém fala honestamente. Então nós vamos falar e cantar honestamente.

Porque você sente que precisa tomar uma posição no assunto?
Isso é a coisa sobre o rock and roll. Quando eu digo que rock and roll representa liberdade, é porque foi feito para rebelião. Foi feito para isso: “Ei, acorda, porra! Olhe o que está acontecendo.” E isso não quer dizer que não possa ter músicas divertidas, mas isso não quer dizer que não tem profundidade.
Música pode mudar a percepção das pessoas e ajudar as pessoas a pensar de um jeito diferente do qual elas foram ensinadas. Não tem muita música que está fazendo isso. A publicidade é tão grande que você não está pensando por si mesmo, tipo, eu não consigo ver um vídeo sem publicidade. Nós estamos dizendo algo.

Tradução feita pela equipe TPRbr.com
Não reproduza sem os devidos créditos 

 

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